Com curadoria do artista plástico carioca Marcos Bonisson, Príamo Melo tem sua primeira exposição individual na Galeria de Arte do SESC/SE, em Aracaju. Intitulada “Paisagem como Jornada – Série Água”, a exposição foi aberta em 08 de novembro de 2013. Confira abaixo o texto de abertura do curador.
Por Marcos Bonisson
Se, em sentido clássico, a arte da paisagem tentou descrever ou fabular a superfície da terra de alguma forma, em tempo atual, definir com exatidão o termo paisagem em artes visuais pode ser um desafio imensurável. Nota-se que há uma flexibilidade interdisciplinar das linguagens das artes de hoje, em detrimento a categorias fixas do passado. Embora pareça que a paisagem seja um gênero artístico muito antigo, foi somente com o desenvolvimento do capitalismo, liderado por uma burguesia comerciante nos Países Baixos, que o gênero da paisagem se estabeleceu com autonomia iconográfica na história da arte. Entretanto, foi no período romântico que a paisagem na pintura deixou definitivamente de ser pano de fundo para temas mais importantes e se tornou o objeto de pesquisa em si mesmo, como um gênero artístico consolidado. Se a Europa desenhou os contornos nítidos da pintura de paisagem, por sua vez, os Estados Unidos determinaram seus primeiros paradigmas com a fotografia de paisagem no final do Século XIX e a desenvolveram como potência estética ao longo do Século XX. Hoje, em tempo de virtualidade e a crescente produção de imagens no mundo, paisagem deve ser compreendida como um gênero nas artes, expandido de sentidos e sujeito a uma costura inconsútil de significados. Dessa forma, os temas visuais são escolhidos e combinados, como uma linguagem articulada que mescla diferentes desígnios em busca de uma imagem extraordinária.
As fotografias de Príamo condensam em si uma densidade pictórica, que exige uma observação atenciosa. Quando o fotógrafo afirma a paisagem como jornada, aponta claramente um percurso de experimentação e aprendizado. Nesse trajeto, há uma alquimia de luz operada por Príamo na estruturação desses enquadramentos de longa exposição, onde diferentes elementos são filtrados e trabalhados em busca de uma composição perfeita em cores. Essa condensação de vislumbres tanto valora as qualidades descritivas da fotografia, como também aspectos oníricos que, em fusão, transmutam lucidamente os campos visuais escolhidos como tema. Vale a menção que Príamo é um conceituado professor de engenharia química do departamento de pós-graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em sua ciência da arte, por assim dizer, o fotógrafo elenca e mistura elementos composicionais para produzir um amálgama de matéria visual que rejeita a leitura fácil. Imagens que falam diretamente aos sentidos, acústicas, voláteis, paisagens registradas em um espaço-tempo perpassado por uma preciosa técnica de composição com o uso preciso de filtros de densidade neutra. Nesse contexto, há um claro processo metonímico que opera o todo pela parte. Príamo recorta suas imagens levando em conta não somente o que se inclui, mas também o que fica excluído desses enquadramentos. Talvez, resida nesse gesto fotográfico de recortar o espaço com o tempo uma das ações mais essenciais realizadas por um artista visual que visa à apresentação de uma linguagem que nunca se esgota de significantes. Nesse sentido, sempre haverá pesquisa, busca e novas visões enquanto houver artistas e espectadores dispostos a experimentar o mundo-imagem como conhecimento.